18 de jul. de 2015

TV: Ivan e Sérgio, será que agora vai?

O casal mais fofo de Babilônia

Entre as inserções da diversidade nas telenovelas brasileiras, talvez o par romântico ou a história de amor entre Ivan (Marcello Melo Jr.) e Sérgio (Cláudio Lins), na novela Babilônia (Globo) seja a mais atualizada e verídica representação gay, vendo este rótulo de forma geral ou, pelo menos, o que seria a cara da maioria, que podemos adiantar que é a mesma dos chamados normais.

Ainda que essencialmente conceitual, como em toda ficção, a história entre os personagens Ivan e Sérgio, da atual novela das nove, traz a naturalidade como a diversidade de gênero vem se inserindo na vida das pessoas. Hoje, todo mundo pode dizer que conhece e inclusive é parente de algum gay, caindo por terra muitos clichês e tabus. E não poderia ser melhor esta conscientização - proposital ou consequentemente, passamos a enxergar melhor estas obviedades da vida, sem maiores preconceitos. Já escutei muito hétero se redimindo, dizendo que mudou completamente a visão que tinha dos gays, depois de conhecer um. A ignorante homofobia só é curada com conhecimento - conhecendo as pessoas, independente de sua figura, fica mais claro que condição sexual é um mero detalhe (e íntimo), a não ser que haja interesse sexual em jogo.



Além disso, Ivan e Sérgio contrapõem com os inúmeros bad fakes e caricaturas que ainda são criados na TV, incrementando o roteiro com questões relacionadas aos diversos tipos de preconceito, discriminação ou segregação social, inclusive a tal homofobia. Depois do 1º beijo gay de Félix (Mateus Solano) e seu "carneirinho" Niko (Thiago Fragoso), estava demorando aparecer um romance gay de verdade, com um conteúdo indo além do (já banal) conflito da simples condição sexual ou homossexualidade na telinha.

O que dá "orgulho gay" mesmo é poder ter acesso a esta identidade ou, no plural, identidades de gênero também nos folhetins, sem ter que traduzir uma representação ou encenação romântica entre personagens que não fazem parte da nossa realidade ou verdade - como uma menina que se vê numa princesa ou .num garoto que se coloca como super-herói, ambos no padrão hétero, onde 'casal' significa precariamente uma relação entre homem e mulher. Mas se a atual tendência está justamente nos direitos igualitários, por que não o acesso a produtos (no caso, de mídia) personalizados, feitos especialmente para o público gay, ainda que esta audiência seja também tão diversificada?

Quanto à realidade nua e crua, parece mesmo que o formato reality show contaminou tudo e todos, e fica complicado para as novelas brasileiras, sempre tão "retratos da vida", criarem ficção muito absurda ou fora da lógica visual que temos hoje - e esta não é mais a mesma há algum tempo, onde vemos, a todo momento, personagens reais (pessoas) cada vez mais sortidos. Na mesma novela, Babilônia, Simone (Jacqueline Laurence) disse: "Vanguarda é transgênero, é plus size, 'a vida como ela é...'" - incentivando Regina (Camila Pitanga) a ser a modelo do ensaio fotográfico das jóias do antiquário / restaurante. É dentro desta "vanguarda" ou tendência que o casal Ivan e Sérgio vão se tornando o mais novo meme ou fofurice gay, especialmente para o público masculino.



Entre as várias masculinidades, podemos confirmar que a maioria é aparentemente padronizada no gênero heterossexual másculo - entre "coisas de menino / coisas de menina", etc. Assim, a comunicação ou identificação com este perfil é mais abrangente, ao invés do impacto meio inócuo com outros tipos gays (que também existem, porém, em menor proporção): drag, transexual, biba ou qualquer outro com características efeminadas. Além da comédia ou em situação marginalizada ao ser tachados por "minoria", até os gays, gay, gay!, no sentido do tipo clássico e identificável no mundo todo, a biba, também poderia ser representada de forma mais verdadeira do que se vê na televisão brasileira, não só como piada ou um tipo de alienígena. Ao mostrar nas novelas, um dos mais poderosos espelhos comerciais, logo, culturais, os chamados 'gays normais', aquela ideia de "minoria" vai se tornando cada vez mais contestável.

É isso que vem amedrontando os conservadores, onde eles sim são minoria, criando verdadeiros desserviços para os direitos igualitários. Recorrentemente, o que vemos são diversos assassinatos ou conversões ("cura gay") de personagens gays que simplesmente morrem ou, pior ainda, viram héteros, sem mais nem menos, colocando um precoce e decepcionante the end no que poderia ser um romance gay. Na novela Tititi (Globo, 2010/2011) por exemplo, o casal que prometia ser uma boa 'balada gay' acabou-se nos primeiros capítulos da trama, com a morte de um deles, Osmar (Gustavo Leão), deixando Julinho (André Arteche) perambulando na novela como viúvo e best friend da protagonista (Marcela - Ísis Valverde). Mas, pelo menos, o remake de Tititi trouxe a diversidade de gênero em pessoa, ou melhor, entre seus diversos tipos de personagens, ambos de identificação imediata do público gay, especialmente o fashionista.

O desastre só não foi maior do que na novela Império, onde Leonardo (Klebber Toledo), que mantinha um casamento enrustido com o já casado Cláudio (José Mayer), acaba virando heterossexual! Como se não bastasse tal absurdo, Xana (Ailton Graça), uma respeitada 'travesti de bairro', também se revela hétero no final da novela, casando com a boazuda e rainha dos machos Viviane Araújo, no papel de sua amiga Naná. Sinceramente, prefiro ouvir uns e outros da política que insistem em considerar a homossexualidade uma patologia, epidemia, modismo, entre tantas outras cegueiras fundamentalistas (e sem nenhum fundamento lógico), do que engolir uma barbaridade dessas no cultuado e "digno" horário nobre.

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Recapitulando...
Contém spoiler!

Ivan  (Marcello Melo Jr., o cafuçu mais belo do mundo) é instrutor de slackline (esporte de equilíbrio sobre uma fita de nylon, conhecido por "corda-bamba") que, associado a uma academia, dá suas aulas em plena praia. Ele nasceu e cresceu no Morro da Babilônia com a irmã e advogada Paula (Sheron Menezzes), dividindo agora um apartamento no Leme com ela. Ivan, segundo seu próprio perfil no site da novela, representa "uma nova geração de gays que chegou à vida adulta numa sociedade mais tolerante, e que não carrega medo ou culpa por ser gay". "Assumido" socialmente, seu melhor amigo, Diogo (Thiago Martins), é hétero, mostrando-se totalmente inserido numa realidade social, "fora do armário". Ele se comporta como qualquer "bofe", bate até uma pelada e informa aos desavisados que não existe regra estética ou comportamental para ser gay, mesmo nos casos "bem resolvidos" e cheios de "orgulho gay".

Já seu novo par romântico, pois o original seria o treinador Carlos Alberto (o super galã Marcos Pasquim), Sérgio (Cláudio Lins), irmão do ex-atleta campeão, que chega repentinamente no meio da novela como substituto da missão em formar um belo casal gay, tem dificuldades com a aceitação e compreensão de sua própria sexualidade. A desculpa que deram para sua entrada na trama foi fazer com que Evandro (Cássio Gabus Mendes) o convidasse para trabalhar na Souza Rangel, no intuito de fiscalizar sua ex-esposa Beatriz (Gloria Pires) e a rival dela, Inês (Adriana Esteves).

Sérgio conhece Ivan na orla, ao revisitar as praias cariocas. Mas se revela um gay retraído, chegando a se casar com mulher e sempre ter dúvidas de sua real condição sexual. E esse é o principal conflito entre os dois: um adulto virgem e cheio de medos e o outro descolado e de bem consigo e com a vida.

Por outro lado, mesmo seguro de si, o papel de Ivan ainda reúne a militância quanto à segregação racial, inclusive na injustiça social, sendo vítima de bullying e até já foi preso por engano (ou por preconceito mesmo), sendo humilhado por policiais abusivos e... também preconceituosos - uma mensagem específica para a turma do "fazer justiça com as próprias mãos", antes mesmo de ter certeza se o suspeito é mesmo culpado, ou já o culpando com o mesmo preconceito que o tornou suspeito. Mas com o apoio e incentivo de Paula, Ivan decide investir numa paixão que se apresentava diferente, para quem não curtia "relacionamento sério", preferindo só curtição, ou melhor, só pegação. Por enquanto, ele está numa baita batalha para, como disse sua própria irmã e advogada, abrir "as sete chaves do armário" do executivo. Aguardemos os próximos capítulos...





























E que estes sejam o que esperamos, com a mesma naturalidade do casal Rafael (Chay Suede) e Laís (Luisa Arrais) e tão fofo quanto, até porque aguentar outra decepção, acho que nem os homofóbicos suportariam mais.

Destaque também para o tema do casal, Ilusão à Toa, na trilha sonora de Babilônia, na perfeita e belíssima voz de Gal Costa. E perfeito também para embalar a história de amor e descobertas de Ivan e Sérgio.


Marcello Melo Jr.
Nova Iguaçu (RJ), 1987

O campeão da Dança dos Famosos, edição de 2014, além de ator e modelo, Marcello Melo Jr. é cantor, compositor e músico, e talvez uma das personalidades com maior empatia do público gay, principalmente por ter participado do projeto frustrado da primeira (web) série gay caRIOcas (2010), que já prometia revolucionar a forma como a homossexualidade costuma ser retratada na televisão.

Cena da webserie caRIOcas com Marcello Melo Jr.

Primo da atriz Taís Araújo, seu primeiro destaque na TV foi como Benê, na novela Viver a Vida (2009), conquistando seu primeiro prêmio como Melhor Ator no Troféu Raça Negra e foi indicado em 2014 para o prêmio F5 de Ator Coadjuvante do Ano, pelo sucesso do polêmico Jairo na novela Em FamíliaMarcello foi o Pulguinha do filme Cidade de Deus (2002), o Lombada em Tropa de Elite (2006), o Marquinhos em Meu Nome Não É Johnny (2007), participando de mais seis filmes. Nas novelas, começou na Record em 2005, firmando o pé na Globo desde 2009.

O ator lançou a sua própria linha de bonés e camisetas, em parceria com Uníti Rio, a coleção Mjr. O lançamento aconteceu em agosto do ano passado, no Top Fashion Bazar, na Barra da Tijuca (RJ). Para o papel de Ivan, o galã (sobretudo para os gays) diz ter tido apoio da namorada e torce por encenar um beijo gay na TV.












Cláudio Lins
Rio de Janeiro, 1972

Cláudio Lins
é ator, cantor e filho do super músico Ivan Lins e da bela atriz Lucinha Lins. Nascido neste meio tão artístico, o ator carioca dedicou-se à música (piano) até os seus 18 anos, participando também, desde os 11 anos, de musicais e peças de teatro. Cláudio Lins já coleciona mais de vinte espetáculos, sendo dirigido por nomes de peso como Wolf Maia, Cláudio Tovar, Diogo Vilela e Dennis Carvalho.

No cinema, o carioca foi João, no curta Cinema na Ponta da Língua, uma adaptação de um conto de Fernando Sabino, Os Abismos do Esquecimento, e Carlos, em Teus Olhos Meus, ambos de 2011. Na TV, começou na Globo em 1995 e, a partir do ano seguinte, trocou de emissora a cada ano, passando pela Band, RTP1, Record, SBT e, agora de volta, no papel do executivo e acanhado gay Sérgio.

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